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domingo, 30 de janeiro de 2011

Soneto puro


Tu carregas, meu amor
O peso de ser escura
Sofrer e sentir a dor
De quem não julgam pura.

Mas amo te por inteiro
Quando possuo suas curvas
Quando do seu cabelo sinto cheiro
Redondo como uvas.

Tudo que mais desejo
É que pudesses, minha querida
Sentir apenas o peso do meu beijo.

E farei o que puder
Para fazer da sua negra vida
A mais pura vida de mulher.





Michelle Obama(exemplo)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Escolha no que acreditar

Ouvi um dia de repente, como quem não queria nada.

Uma tarde de família, que se sucede aos domingos. Costume antigo, seguido sem problemas ou pressão. Parentes reunidos, panelas já vazias em contradição com a pilha de louça. Criança: debruçava em cima de pedaços de melancias, vestes manchadas de um rosa singelo, um caldo doce no chão que dividíamos com nossas cadelas. E assim na alegria ingénua da infância aproveitávamos o domingo.

Adulto: cada qual me sua posição própria e eterna. Havia aquele que cozinhava. Este era reconhecido pelo pano de prato bordado jogado no pescoço, como um crachá ou um cartão de identificação "cozinheiro". Haviam aqueles que se sentavam, e ali se mantinham sentados. Extremamente importantes, eram quem coordenavam as conversas, encontravam novos assuntos, sabiam de todos os boatos e, se necessário fosse, também os inventavam para não se manterem calados. Haviam aqueles inquietos, repetidamente davam ordens, sempre limpando algo ou alguém. Reclamavam do cansaço da semana mas nunca paravam para o merecido descanso. Talvez se descansassem não teriam do que reclamar e estariam novamente insatisfeitos. E assim na alegria extravasada de um copo de cerveja aproveitavam o domingo.

Sentada no chão, alisando uma filhote, ouvi de uma parente um tanto próxima algo que me intrigou. Na idade em que me apresentava nada significou, apenas o fato de ouvir pela primeira vez uma palavra que soava engraçado.

No meio de uma discussão de família um tanto polémica saiu uma frase que guardei até o dia em que pude intende-las, ou melhor, questiona-las. Guardei as palavras com carinho que saíram dos lábios de alguém que leva meus últimos nomes. Juntamente com o leve cheiro de álcool que senti, ouvi "Meus dois maiores ídolos foram homossexuais".

Não me lembro o contexto em que se encaixava a frase, consequentemente não sei o que se referia. Poderia quem sabe ser uma justificativa, onde alguém questionava uma opção sexual e em defesa foi apresentado seu talento. Como se não tivesse para eles problema ser homossexual já que eram talentosos. Ou talvez o problema foi a homossexualidade, e nem mesmo o talento os compensou como ser humano dentro de uma moral criada pela sociedade. Pior seria se fosse para afirmar que a atração pelo mesmo sexo não atrapalharia uma pessoa à ser talentosa. Quem sabe a crença, a vontade e o desejo de um individuo não os torna diferentes, podendo assim como outro qualquer chegar a glória, ser admirado e realizado.

Cabe a nós acreditar então, que Deus, para compensar a doença que nestes cresceu como uma anomalia humana que é o homossexualismo, deu-lhes talento.


Eu sinceramente, espero que não acreditemos.

Cássia Rejane Eller (1962-2001)
Renato Manfredini Júnior"Russo" (1960-1996)